domingo, 7 de dezembro de 2014

Vitrine entrevista Luciana Dimarzio




1)  Quem é Luciana Dimarzio?


Luciana Dimarzio é uma mulher romântica e apaixonada por poesia. Adora literatura, cinema e psicanálise. É natural de Campinas/SP onde reside. Casada e mãe de 3 filhos, formou-se em Publicidade e Propaganda pela Puccamp e especializou-se em Marketing pela ESPM/ SP. 
Atualmente trabalha no departamento de marketing na empresa Coelho de Souza - Inteligência Imobiliária (http://www.coelhodesouzaimoveis.com.br/ e escreve poemas como hobby. 





Além de poeta, realiza trabalho voluntário como contadora de histórias no Hospital Boldrini,  por meio da Associação Griots - Os Contadores de Histórias (http://www.griots.org.br).
Em 2012 lançou um livro de poemas e frases intitulado “Reversos (in) Versos”, participou de algumas antologias poéticas e ingressou na Academia Nacional de Letras do Portal do Poeta Brasileiro (ANLPPB). 





Em março de 2013 recebeu o prêmio Mulher Destaque na Literatura pelo CPAC (Centro de Poesias e Artes de Campinas) e em maio, o Troféu Staff de Ouro 2013, pelo destaque cultural. 







Escreve periodicamente no blog http://lucianadimarziopoesias.blogstpot.com e na página do facebook “O canto da Lu-a”. 

Ela se define pelos versos de dois poemas de sua autoria; "Mulher de Malabares" e "Água Fluente".
                                                                                                                                                  "Mulher de Malabares"    

Mulher de muitas asas,
movimentos e ritmos,
de ancas que dançam sob
a verdade do sol.


Fêmea de nuances, 
mosaicos e estações
desvela sua lucidez,
despe o pudor e
fica nua de amor.


Mulher de malabares
equilibra crias e ninho
e coleciona sonhos gastos
no compasso
dos novos passos.


Fêmea de alva e rubra cor,
de tempestades e garoas,
de versos, inversos e avessos...
                                                                            

                       Luciana Dimarzio


"Água Fluente"




Tal como água


fluo

mato a sede

apago o fogo

inundo.






Depois 

deságuo

dissipo

evaporo.


E broto novamente da terra.



Às vezes

grande lagoa

outras tantas

simples ribeirão.




Às vezes

chuva fina

outras tantas,

tempestade com trovão.


Mas nunca água represada. 


E assim sigo escoando,
contornando os obstáculos
rumo ao Grande Oceano...


Luciana Dimarzio 
2) Como a ANLPPB surgiu em sua vida?

No ano de 2012 eu costumava frequentar os saraus mensais do Portal do Poeta Brasileiro em Campinas e estava muito envolvida com o universo poético. Conversando com a escritora Aline Romariz, ela compartilhou seu sonho de fundar uma Academia de Letras e me convidou para fazer parte deste projeto. Aceitei com grande alegria e entusiasmo.  



3) Como você iniciou sua vida de poesia?

Escrevo desde muito pequena, mas não sabia que era poesia. Eu utilizava metáforas para expressar meus sentimentos. Sempre guardei todos meus escritos, sentia vergonha de mostrar para os outros. Mas quando surgiram as redes sociais, comecei a compartilhar meus textos e fui perdendo o receio da crítica alheia. O importante para mim era dividir os pensamentos com meus amigos e poder tocá-los de alguma forma.

 

4) Em quais outros projetos tem trabalhado?

Atualmente tenho pouco tempo para escrever. Por enquanto não vislumbro novos projetos literários.

5) Quais são seus livros e como eles chegaram a ser publicados?

Participei de algumas antologias poéticas no ano de 2012 e publiquei um livro de poemas e frases intitulado "Reversos (in) Versos, lançado na Livraria da Vila do Shopping Galleria de Campinas. O projeto foi viabilizado graças ao apoio comercial de algumas empresas da cidade.  


6) Como você vê a poesia e o ser poeta?

Poesia é tudo aquilo que toca a sensibilidade e nos comove. É a mais legítima manifestação de sentimentos e emoções e pode ser encontrada em diversas formas de representação. Poema é a forma concreta em que esse sentimento poético é expresso.


O poeta não cabe na própria pele e derrama-se em 
metáforas 
que expressam a pluralidade dos sentimentos humanos. 
Percebe nos objetos uma subjetividade infinita e faz do 
concreto uma abstração. 

 É alquimista dos verbos, costurador de raciocínios e 
intuições.

O poeta tem natureza paradoxal. Rompe lógicas, conceitos e
 paradigmas. 
Mobiliza emoções cativas para flamejar catarses.

A poesia é a múltipla expressão das emoções. 
Primeiro desestabiliza para depois estabilizar, 
exercendo o papel de mediadora de conflitos internos.
Primeiro esconde para depois exibir, 
cumprindo a missão de reveladora da verdade
(ainda que momentânea e relativa).

Tantas são as funções da poesia:  refletir, comover, exaltar, 
homenagear, socializar, reivindicar ou simplesmente dar à 
luz o encantamento.  

O poeta e sua poesia existem para dar contorno
às sensações tão dispersas e amorfas. 
Para traduzir as inspirações em linguagem 
e para garimpar a beleza da vida...

Luciana Dimarzio


7) Que autores você tem lido e quais influenciaram sua vida literária?Antigos: Fernando Pessoa, Mario Quintana, Rubem Alves, Guimarães Rosa, Clarisse Lispector, Adelia Prado, Vinicius de Moraes, Paulo Leminski, Pablo Neruda, etc.
Contemporâneos: Mia Couto, Thiago de Mello, Ferreira Gullar, Valter Hugo Mãe, Elisa Lucinda, Severino Antonio, Mario Sergio Cortella, Alice Ruiz, Fabricio Carpinejar, etc
8) Como é a vida da Luciana antes e depois de ser escritora?Como escrever é apenas um hobby para mim, minha vida não mudou quase nada depois de lançar o livro. A única diferença é que perdi minha timidez para mostrar o que escrevo. Antes eu tinha receio da crítica e mantinha tudo guardado. Agora sinto-me livre do jugo alheio e compartilho pensamentos no face e no meu blog. 
9) Que fatores prejudicam ser poeta e quais favorecem?

Infelizmente existe um preconceito com o "ser poeta". Ele é considerado, por muitos, uma pessoa demasiadamente sonhadora e nefelibata. Há um certo estigma de boemia também. No entanto, é visto como um ser sensível, de grande intuição e que não se prende as coisas materiais. 

10) Cite um poema seu.



Porque nunca aceitei amores feitos de concisão,
concebo a poesia como minha morada plena
e faço dos meus passos uma ventania.
 


Porque nunca contive a vida em seu tropel,
desprezo a lassidão dos verbos 
 
e faço dos meus dias um desencontro de rimas.



Porque é na crença das minhas cores que habita uma luz:
O que sou e penso nunca será corrompido pelo breu...


Luciana Dimarzio 



11) Cite um poema de um outro autor que goste e indique a leitura.
Os Estatutos do Homem - de Thiago de Mello 

Artigo I 
Fica decretado que agora vale a verdade.
agora vale a vida,
e de mãos dadas,
marcharemos todos pela vida verdadeira.

Artigo II 
Fica decretado que todos os dias da semana,
inclusive as terças-feiras mais cinzentas,
têm direito a converter-se em manhãs de domingo.

Artigo III 
Fica decretado que, a partir deste instante,
haverá girassóis em todas as janelas,
que os girassóis terão direito
a abrir-se dentro da sombra;
e que as janelas devem permanecer, o dia inteiro,
abertas para o verde onde cresce a esperança.

Artigo IV 
Fica decretado que o homem
não precisará nunca mais
duvidar do homem.
Que o homem confiará no homem
como a palmeira confia no vento,
como o vento confia no ar,
como o ar confia no campo azul do céu.

Parágrafo único: 
O homem, confiará no homem
como um menino confia em outro menino.

Artigo V 
Fica decretado que os homens
estão livres do jugo da mentira.
Nunca mais será preciso usar
a couraça do silêncio
nem a armadura de palavras.
O homem se sentará à mesa
com seu olhar limpo
porque a verdade passará a ser servida
antes da sobremesa.

Artigo VI 
Fica estabelecida, durante dez séculos,
a prática sonhada pelo profeta Isaías,
e o lobo e o cordeiro pastarão juntos
e a comida de ambos terá o mesmo gosto de aurora.

Artigo VII
Por decreto irrevogável fica estabelecido
o reinado permanente da justiça e da claridade,
e a alegria será uma bandeira generosa
para sempre desfraldada na alma do povo.

Artigo VIII 
Fica decretado que a maior dor
sempre foi e será sempre
não poder dar-se amor a quem se ama
e saber que é a água
que dá à planta o milagre da flor.

Artigo IX 
Fica permitido que o pão de cada dia
tenha no homem o sinal de seu suor.
Mas que sobretudo tenha
sempre o quente sabor da ternura.

Artigo X 
Fica permitido a qualquer pessoa,
qualquer hora da vida,
uso do traje branco.

Artigo XI 
Fica decretado, por definição,
que o homem é um animal que ama
e que por isso é belo,
muito mais belo que a estrela da manhã.

Artigo XII 
Decreta-se que nada será obrigado
nem proibido,
tudo será permitido,
inclusive brincar com os rinocerontes
e caminhar pelas tardes
com uma imensa begônia na lapela.

Parágrafo único: 
Só uma coisa fica proibida:
amar sem amor.

Artigo XIII 
Fica decretado que o dinheiro
não poderá nunca mais comprar
o sol das manhãs vindouras.
Expulso do grande baú do medo,
o dinheiro se transformará em uma espada fraternal
para defender o direito de cantar
e a festa do dia que chegou.

Artigo Final. 
Fica proibido o uso da palavra liberdade,
a qual será suprimida dos dicionários
e do pântano enganoso das bocas.
A partir deste instante
a liberdade será algo vivo e transparente
como um fogo ou um rio,
e a sua morada será sempre
o coração do homem. 

12) Deixe-nos uma mensagem.
ORAÇÃO DA MANHÃ
 

Que a cada amanhecer a gente possa abrir os olhos para
 novos significados. E que essas descobertas sejam 
genuínas, desprovidas de tolas vaidades.
 
Que a gente se permita tropeçar no desconhecido, mesmo
 se sentindo despreparado para o imprevisível. E que haja 
sempre imensa capacidade de improvisação.
 
Que se tenha paciência para aceitar que muitas vezes se 
andará em círculos e se chegará ao mesmo ponto. Mas
 mesmo retornando ao passo inicial, se saiba que já não se é
 mais o mesmo. 

Que a gente não se sinta assolado pelas críticas nem 
deslumbrado pelos aplausos. E que possamos conservar 
sempre a gentileza nas palavras e nos gestos, mesmo 
quando não correspondidos. 

Que nunca nos falte constância e fé para insistirmos na
 preservação daquilo que mais amamos. E que possamos
 aceitar que as reminiscências são necessárias para a 
compreensão dos velhos erros.

Desejo, por fim, que se cairmos em tentação possamos nos 
levantar com dignidade, sem autocomiseração ou 
demasiado sentimento de culpa. 

E que nunca falte a poesia, para que apesar de tantos
 pesares jamais desfaleça o encantamento por estar vivo.

 
Amém.
Luciana Dimarzio


Um comentário:

  1. Gostei muito desta entrevista, Luciana Dimarzio. Obrigada por compartilhar conosco um pouco de sua trajetória de vida.

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